Bolsa de valores : opções para todo tipo de “apetite” de risco
Escrevo o nosso artigo semanal tendo em mente um fato que sempre me chama muita atenção: o medo do investidor brasileiro em relação ao mercado acionário. Estava jantando em um restaurante japonês com minha esposa e meus sogros nesta semana, e para variar, um dos papos que surgiu a mesa foi: investimentos financeiros.
Todos os dias recebo clientes que tem medo da aplicação em ações, na maioria das vezes por falta de conhecimento, em outras situações por experiência negativa própria ou de terceiros próximos (que geralmente também é consequência da falta de conhecimento técnico).
Novamente em nosso bate papo tive contato com “a grande dúvida” em relação à bolsa de valores: afinal, a aplicação em ações é aposta ou fundamentos?
Começo a resposta com o seguinte comentário: na bolsa de valores existem possibilidades e estratégias voltadas para todo tipo de investidor, temos especulação de curto prazo para traders e aplicação de longo prazo para investidores.
Decidi dar sequência ao nosso último artigo e trazer para vocês mais um importante indicador para elaborar uma boa carteira de ações: o Dividend Yield.
Apenas por iniciar este artigo, direcionando o foco para uma “carteira de ações”, estamos excluindo os traders e especuladores de curto prazo. Portanto, este artigo está dedicado aos investidores a médio e longo prazo.
O Yield (como o chamaremos a partir daqui) é uma relação do que a empresa paga ao acionista em dividendos sobre o valor de mercado (ou de carteira) da ação, ou seja, dividendos pagos por ação/valor de mercado da ação. Esse importante indicador nos dá o quanto o investidor irá lucrar em, independente de quanto à ação subirá ou descerá após a sua compra dividendos (geralmente a leitura é anual, mas pode ser adaptada para qualquer fase temporal).
Vamos entender melhor:
Toda empresa listada em bolsa de valores é obrigada a dividir com seus acionistas pelo menos 25% do seu lucro líquido anual.
Se uma ação teve de lucro líquido R$ 10 por ação, obrigatoriamente ela terá que distribuir R$ 2,50 por ação ao acionista.
Se essa mesma ação custa R$ 30,00, o seu Yield mínimo será de R$ 2,50/R$ 30, em base percentual, teremos um Yield de 8,33%.
É importante termos em mente que muitas empresas por não terem muita possibilidade de crescimento em determinados anos (como por exemplo, as que trabalham por concessões), distribuem aos seus acionistas um percentual maior do que 25% do seu lucro, algumas chegam aos 100% do seu lucro distribuído. Esse percentual do lucro líquido que é distribuído é chamado de “Dividend Pay Out”.
Vocês devem estar se perguntando por que uma empresa distribuiria 100% do seu lucro para os acionistas. Essa resposta é fácil: o mercado de ações impõe às empresas listadas o tratamento igualitário a todos os acionistas, portanto, o mesmo ganho que os acionistas controladores das empresas têm, eu e você também teremos, afinal, um dos objetivos de qualquer empresa de capital aberto é reter o seu acionista, seja ele um “grande” ou um “pequeno” investidor.
Separei abaixo uma listagem de 30 empresas que podem ser consideradas “boas pagadoras de dividendos”.
Percebam que se pegarmos 4 dessas empresas (ex. Eletropaulo, Coelce, Telesp e Eternit) consolidadas em seus setores e com boas margens operacionais (trataremos das margens operacionais das empresas em um próximo artigo), conseguiríamos uma rentabilidade média nos últimos 5 anos de 13,97% líquido de imposto de renda (sim, todo dividendo recebido é líquido de IR, o que o torna ainda mais atrativo).
Com 13,97% de rentabilidade ao ano, o investidor já estaria superando quase todas as alternativas de renda fixa existentes (excetos alguns CRIs que pagam mais do que isso devido aos seus indexadores em momentos de alta inflação e Selic), o que já tornaria a sua carteira de ações um excelente negócio.
Vamos ver como essas empresas andaram nesses últimos 5 anos?
- Eletropaulo – Desde o início de suas operações em bolsa (2006), onde estava cotada a R$ 10,07 até hoje, com cotação de R$ 34,80, ela sofreu uma valorização de 245,58% sem contar os dividendos recebidos ao ano de 18,76%.
- Coelce – Desde o mesmo período da Eletropaulo (2006), onde estava cotada a R$ 7,30 até hoje, com cotação de R$ 30,70, ela sofreu uma valorização de 320,55% sem contar os dividendos recebidos ao ano de 14,75%.
- Telesp – Desde o mesmo período de apuração das duas acima (2006), onde estava cotada a R$ 29,61 até hoje, com cotação de R$ 45,90, ela sofreu uma valorização de 55,02% sem contar os dividendos recebidos ao ano de 10,47%.
- Eternit – Desde o mesmo período de apuração das três acima (2006), onde estava cotada a R$ 4,14 até hoje, com cotação de R$ 9,50 ela sofreu uma valorização de 129,47% sem contar os dividendos recebidos ao ano de 11,35%.
É claro que as empresas que pagam bons dividendos (vamos entender esse crivo como um Yield pelo menos semelhante à taxa básica de juros – que é a oportunidade de lucros menos ariscada no País) não sobem no longo prazo tanto quanto as que não pagam e a explicação é muito simples. As empresas que reinvestem o seu lucro bruto (fazendo com que não sobre lucro líquido para ser dividido com o acionista) tendem a sofrer valorização na própria cotação, já que o investidor precifica os “frutos” deste reinvestimento na própria ação (Ex. Vale, Petrobras, Usiminas, Bradesco, etc).
Mas aí já estamos falando de mais volatilidade que não é o propósito deste artigo.
Perceberam como é simples manter aplicações acionárias com uma postura conservadora?
O bom da bolsa de valores é que existem opções para todo tipo de “apetite” de risco. Seja para os mais arrojados ou para os mais conservadores (como eu). A aplicação acionária tem uma estratégia adequada, sistemática e testada de resultados positivos para os que esperam manter investimentos em empresas com foco nos seus resultados e lucros.
Respondendo à pergunta do meu jantar: não, a aplicação acionária não é nem de longe um ambiente de apostas. Para os que esperam ter lucros consistentes em ações com esta interpretação, sugiro uma visita à lotérica mais próxima. Sem dúvida alguma será mais eficiente (ou pelo menos demorará mais para perder o dinheiro jogando)!
Encerro com a mensagem de que sem estudo, acompanhamento ou uma assessoria especializada infelizmente ainda terão muitas dúvidas como esta rondando a cabeça do investidor brasileiro, portanto, estudem, perguntem, sejam céticos, mas nunca cegos. As oportunidades existem e tudo que precisamos é saber onde procurá-las.
Desejo a todos uma boa semana de negócios e investimentos.